07/05/2010

Drogas, Mentiras e Videotapes

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista tagged , , , , , , , às 15:08 por Roger Lopes

Dizem que “burrice é uma dádiva”. Exceto pela parte léxica tocante ao pobre animal, cujo intelecto se sobressai ao da maioria dos telespectadores supostamente racionais, demonstrando, inclusive, maior dignidade ao empacar quando algo não lhe parece correto, devo concordar com a conotação jocosa da afirmação. Faz-me tremer o invólucro da alma observar uma cambada de imbecis reproduzindo pensamentos simplórios e idéias prontas como verdadeiros papagaios de pirata, afinal currupaco de cu é rola.

Refiro-me ao processo de desinformação contido na imbecilidade de reportagens tendenciosas disfarçadas de jornalismo sério, aludindo toda merda ocorrida não apenas no país, mas no mundo, ao uso de entorpecentes, bebidas alcoólicas, tabaco, chás, ervas e sei lá mais o quê, sem qualquer averiguação, mesmo que superficial, dos fatos. Que a discussão acerca dos males e tratamentos decorrentes do uso de tais toxinas seja defendida é até condizente, porém, premeditar estratagemas sensacionalistas e suposições preconceituosas para justificar o belicismo e desperdício de recursos públicos no inútil combate ao uso destas substâncias é pura engabelação.

Vem sendo praxe leviana associar violência, assalto, homicídio, suicídio, infanticídio, parricídio, fratricídio, genocídio, latrocínio, laticínio, acidente no trânsito, inchaço do pé, unha encravada, dor de barriga, crise existencial, encosto, impotência,  flatulência e perturbação da alma a um suposto esquema envolvendo beberagens e psicotrópicos, tudo de forma extremamente subjetiva e conjectural.

Exemplos como o dos cachorrinhos adestrados da imprensa, que para satisfazer aos anseios conservadores oficiais se apressaram em afirmar que o assassino do cartunista Glauco (Geraldão Eterno) era um assaltante visivelmente drogado,  sem sequer desculpar-se pelo grave erro de informação, após constatar que o babaca era nada menos que um amiguinho da família ressentido de não ter levado umas dedadas no rabo quando criança, ocorrem com incrível reincidência em nossos voluntariosos órgãos de comunicação.

Sem defender a tese de que usuário é coitadinho e traficante é vítima oprimida do sistema, como querem fazer crer os tais defensores dos direitos humanos e os assustadores grupos pró-vida. Porém, como sempre, deixamos de questionar o que se esconde por trás de cada proibição estúpida, justificada pela retórica maniqueísta de jornais, revistas, televisão e propaganda ideológica governamental.

Princípio básico da economia liberal, toda oferta deriva de demanda (procura) e numa sociedade sufocada por tão onerosa carga tributária, devia causar espanto a enorme quantidade de atividades colocadas à margem da legalidade. Tal ignomínia só se justifica se admitirmos que para os legisladores a indústria da ilegalidade é muito mais lucrativa que a formalidade, tendo em vista que o excesso de burocracia é uma ferramenta eficaz para a comercialização de “facilidades”.

Basta tirar só um pouquinho da venda que encobre os olhos para enxergar que morrem mais, mas muito mais, pessoas no pseudo-combate ao tráfico ou com remédios comercializados normalmente em farmácias e DROGArias do que necessariamente em decorrência do consumo propriamente dito das tão demonizadas drogas. Pergunte a qualquer médico ou especialista isento, se existe qualquer caso de overdose de maconha diagnosticado até hoje no mundo. Tenha a santa paciência.

Em nações culturalmente mais desenvolvidas, o que aqui é proibido lá é usado com fins medicinais ou mesmo turísticos, sem que ocorra o caos e a violência apregoados pela propaganda repressora oficial. Até em Portugal, que não é nenhum exemplo de vanguarda, o pensamento conservador retrógrado foi deixado de lado e após a descriminalização do uso, constatou-se significativa queda no consumo após a liberalização.

A questão no Brasil vai muito além do simples problema de saúde e segurança pública, passando até mesmo por interesses geopolíticos imperialistas. O grande entrave, no entanto, é que MUITA gente graúda lucra com a ilegalidade (e não apenas das drogas). Os traficantes apresentados como os grandes vilões da história são apenas a ponta do iceberg, pois os mandatários do bilionário esquema não dão a face a tapa, nem aparecem em noticiários idiotas, pois conspiram nos bastidores e em gabinetes governamentais.

A legalização não convém a esses ilustres senhores, pois assim precisariam recolher impostos e investir em tratamentos, diminuindo consideravelmente sua margem de lucro. Ademais, os supostos viciados são um bode expiatório excelente para justificar a ausência de políticas públicas em diversos setores de responsabilidade do Estado.

Entretanto, antes que me acusem de apologia, esclareço que não advogo em causa própria, pois minha rara incursão nesse campo, durante a adolescência para impressionar garotinhas libidinosas, resultou apenas em aumento de apetite digno de Biotônico Fontoura seguida de agradável soneca e, acredito eu, grande alívio às referidas donzelas que não precisaram trocar fluídos corporais com esta criatura desprovida de beleza facial. Todavia, até que se implante a inevitável lei seca com toque de recolher nos moldes da Chicago de 30, porque de gangsters o planalto está cheio, permito-me apreciar a tradicional cervejinha pós-expediente e que estejam de cu tomado os hipócritas viciados em bandalheira, que se escondem sob a falsa égide da moral e bons costumes.

Enquanto outras filhadaputices mais prementes ocupavam minha dependência gástrica em bicarbonato de sódio, mantive esse tema fermentando, afinal é mais do que evidente que não existe órgão do governo, partido político ou qualquer outra representação de merda que esteja de fato interessada no bem-estar da população mais do que em avaliar como o erário tratará as necessidades do próprio bolso. Que me prove o contrário quem ainda acredita em Papai Noel, Saci Pererê, Curupira, Caipora, Fada-dos-dentes, leprechauns, duendes, gnomos, políticos ilibados e laboratórios farmacêuticos missionários.