11/10/2011

Assalto ao Banco Central

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista, Político Bom é Político Morto tagged , , , , , , às 05:50 por Roger Lopes

Durante as últimas crises econômicas, o então Grande Ditador Luis Stalin Molusco da Silva, comemorou com vodka russa e aplausos oficiais do servilismo midiático o fato de o sistema financeiro brasileiro passar incólume pelas turbulências internacionais. Como se fosse possível tais agiotas quebrarem praticando os juros mais extorsivos do mundo mediante a benção paternal de um governo cuja sanha tributária desenfreada só encontra similar na infinita benevolência para com a ganância de eméritos especuladores filhos da puta.

Como diz o provérbio, relembrar é viver puto. Então, cabe lembrar que no Regime do déspota anterior, Fernando Holocausto Cardoso, criou-se por meio de Medida Provisória o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional), salvaguarda hedionda via BNDES a instituições quebradas por roubalheiras e má administração. Conhecido na época como escândalo da Pasta Rosa, desviou somas astronômicas do erário para as mãos de banqueiros e ladrões ligados à equipe econômica do partido no poder, ficando o contribuinte com um prejuízo “Feito Pra Você!”

Tal fato já é de causar calafrios na medula óssea, mas a reciprocidade dos larápios eleitos com o auxílio do modesto capital financeiro em suas dissimuladas campanhas  vai muito além da singela caridade dos cofres públicos, sendo necessário impor a todo cidadão a manutenção de conta bancária, para que as instituições lucrem fortunas emprestando dinheiro alheio.

E as arbitrariedades não terminam, pois em nome da segurança, medidas ditatoriais de rapinagem são implementadas com inabalável conivência legislativa. De constrangedoras portas giratórias, que impedem o acesso do cliente, mas não dos assaltantes, até a limitação de horário para uso e de retirada de valores em caixas eletrônicos – os quais têm como habilidade mágica obrigar o correntista a pagar para fazer ele próprio o trabalho dos bancos enquanto estes “enxugam” seu quadro de funcionários – sob o pretexto de evitar sequestros relâmpagos. Quanta bondade, “Nem Parece Banco!”

Não bastasse a generosidade governamental, os tesoureiros do Império ainda brincam de Van Gogh com as cédulas de caixas eletrônicos explodidos, devolvendo novamente o ônus de sua obra de arte à sociedade, jogada compulsoriamente no papel de receptor. O quadro que se desenha é por demais surreal, afinal quando o cidadão é assaltado, não só pelos bancos, mas também por outros bandidos, deve assumir o prejuízo. Então, por que cabe à população se responsabilizar pelos custos causados justamente por uma Indústria da Insegurança patrocinada por banqueiros detentores das principais companhias de seguro e pela incompetência de um Estado títere dessa voracidade?

É absurdo exigir que a população ande com lupa no bolso para verificar se a porra da nota está pintada, queimada, rabiscada, cagada ou merda semelhante, sob o risco de perdê-la para que os tubarões monetários mantenham intocados seus ganhos exorbitantes. Se não conseguem controlar a criatura violenta parida do próprio ventre, que façam um seguro de seus vultosos patrimônios ou, Pelos Relógios Derretidos de Dalí, venham pintar como eu pinto.

Resumindo essa Ópera do Malandro, o mais recente gesto de boa vontade da leviandade politiqueira fora proibir o uso de celular pelo cidadão nas desamparadas dependências bancárias. Tudo visando o bem estar do cliente para que não fiquem vulneráveis à ação dos malandros que transitam livremente nas agências, sujeitando-as a possíveis indenizações. Assim como a patética Lei de Desarmamento, o truque escondido na cartola é retirar do cidadão seus direitos civis ao invés de melhorar a segurança pública. Senhor banqueiro, tenha você também, um Banco Central de Vantagens!

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19/09/2011

Band-aid na Gangrena

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista, Político Bom é Político Morto tagged , , , às 18:42 por Roger Lopes

Após eterno período hibernando em berço esplêndido, pequena parcela deste florão da América acorda de um sonho intenso para notar o tumor maligno que se alastra por sua próstata. Exaustas do repetitivo repertório de denúncias envolvendo o nome de cancros ligados ao atual proctologismo governamental (não que os anteriores também não fossem dados a enfiar o dedo no cu da população), comunidades de internautas começam a se mobilizar em marchas contra a Corrupção. Indignação legítima e digna de aplausos por parte de qualquer pessoa com um mínimo de vergonha na cara.

Entretanto, faz-se necessário questionar se essa aberração disforme que cresce alimentando-se nas entranhas das mesmas instituições que deveriam combatê-la pode ser extirpada por meros placebos verborrágicos, pois não é preciso ser nenhum sociólogo exilado na Sorbonne para perceber que o monstro voraz se esconde justamente sob os narizes putrefatos da própria sociedade, conivente com os jeitinhos, o menor esforço, as facilidades e os “cafés” cedidos para aliviar a barra de “inofensivos delitinhos”.

Consequentemente, tal unguento, como todo ativisminho acéfalo, não possui em sua fórmula conhecimento analítico e menos subjetivo da origem da doença que almeja curar, sujeitando-se a ser mais um movimento festivo metido a revolucionário em terras autóctones, sequer cogitando a remoção do câncer que infesta o corpo constitucional, contentando-se em cassar duas ou três células podres, que provavelmente terão seus direitos políticos restituídos, tão logo passe o efeito das vacinas sensacionalistas.

No receituário de seu Contrato Social, o doutor Jean-Jacques Rousseau diagnostica que “assim como o regime das pessoas saudáveis não convém aos enfermos, não se deve querer governar um povo corrupto pelas mesmas leis que convém a um povo bom.”

Na aparência, a campanha movida pela internet é um grande processo de mudanças comportamentais, democráticas, sociais, políticas, blá blá blá, porém na prática o heroísmo apregoado não passa de um Band-aid na gangrena que corrói a estrutura do país, sendo demasiadamente cego para identificar na quantidade absurda de leis imbecis surgidas a cada dia, na extorsão tributária, nos meandros burocráticos, na subserviência partidária, na supressão das liberdades individuais e coletivas, nos processos eletivos viciados, no autoritarismo desenfreado, nos assistencialismos baratos, na falta de cidadania e educação, no tráfico de influência, nas desigualdades econômicas e na cultura da pobreza, as condições para a evolução da ferida aberta em todos os poderes da República.

Palavras de ordem a favor de quimeras democráticas, resultam geralmente em tirania similar à de outros movimentos falidos como o “Diretas Já” e o “Caras Pintadas”. O primeiro teve como grande mérito apoiar a troca da ditadura física dos milicos pela psicológica do fisiologismo partidário, com o agravante de jogar nas costas dos cidadãos o ônus de indenizações obscenas a estelionatários políticos que jamais tiveram qualquer compromisso com a nação. O segundo, nada mais foi do que um carnaval fora de época patrocinado por grande emissora de televisão, que via parte de seus interesses contrariados naquele momento. Em ambos os casos, os titereiros conduziram com enorme maestria a manipulação das cordas de suas marionetes.

Quem comprou pela primeira vez seu nariz de palhaço, roupa preta, corneta, flâmula revolucionária e saiu em desabalada carreira gritando “você é a doença, eu sou a cura”, lembre-se que os Sarneys, Fernandos, Dirceus, Genoínos, Mottas, Rorizes, Magalhães, Guimarães, Jefersons, Carneiros, Pittas, Ladrufs, Kassabs, Costas Neto, Sobrinho, Primo, Filho, Pai e Avô, Garotinhos, Garotinhas, Moluscos de nove dedos, etc etc etc, são apenas reflexos da hipocrisia popular numa sala de espelhos distorcidos (ou não).

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08/08/2011

Lei do Saco Orgânico Cheio

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista, Político Bom é Político Morto tagged , , , às 00:16 por Roger Lopes

É admirável a eficácia com que os benevolentes heróis da Távola Nacional suscitam malvados vilões e criaturas horripilantes para justificar medidas vampirescas de sangria tributária em nome do bem-estar social, colocando novamente no bosque encantado dessa fábula contemporânea, a donzela em apuros da vez, Lady Sustentabilidade. Bravos cavaleiros de reluzentes armaduras sociais, imponentes estandartes partidários e espadas legislativas afiadas elevam-se em seus radiantes corcéis relinchantes para liquidar o mais maléfico dos servos de Satanás, o horrendo megaloconsumidor inimigo das causas verdes.

O cacarejo dos papagaios de pirata ambiental de que o capim em breve não dará para todos, encontra eco nos preocupados representantes deste país tropical abençoado por corruptos e hipócrita por natureza, mas que beleza. E em fevereiro tem carnaval e afrodescendentes chamadas Tereza para cidadãos de nacionalidade britânica apreciar.

Nobres amiguinhos Wiccas comedores de alface, comove feito novela mexicana que o renomado Estado de Direito Totalitário Brasileño disponha de seu precioso tempo para elaborar legislações de indiscutível relevância ao futuro de seus servis eleitores, cônscios da importância de preservar o planeta para as próximas gerações, afinal este é o país da solidariedade, não é mesmo, ô da poltrona?

É de transbordar o Rio Amazonas as lágrimas de crocodilo emprestadas por essa corja de cínicos sacripantas e mesmo o saco do cidadão não sendo de plástico, já deveria estar irremediavelmente cheio de tantas baboseiras demagógicas instituídas neste feudo federativo.

Faz-se necessário supremo exercício de imaginação para admitir que alguém que não possua interesses escusos e de marketing pessoal, seja suficientemente ingênuo para crer, tanto em relação à draconiana “Inspeção Veicular Obrigatória”, quanto à ignóbil “Lei das Sacolinhas Plásticas”, que exista qualquer objetivo filantrópico maior do que simplesmente expropriar da onerada população mais um obolozinho em impostos e de quebra contribuir para o lucro dos amigões financiadores de ricas campanhas eleitoreiras, entre eles empresas terceirizadas de origem duvidosa, grandes montadoras e conhecidas redes de hipermercados.

O argumento de fiscalizar veículos automotivos visando melhoria das condições do ar e de proibir o fornecimento de sacos plásticos, a fim de minimizar o problema de decomposição de tais resíduos, não passa de meia verdade, ou no caso, mentiras inteiras para justificar mais um proctologismo governamental.

Mais deprimente que a retórica perdulária, apenas os aplausos idiotizados de programa de auditório advindos da turminha verde, que não enxerga um abismo à frente do nariz, sequer dando-se conta de quão títeres conseguem ser ao defender suas bandeirinhas autoritárias em defesa de um saudável mundo melhor. Viver no meio da selva rodeado por lobos (como se na metrópole fosse diferente), tomando banho frio, locomovendo-se de cipó e sem fast food quentinho, ninguém quer, não é mesmo?

05/07/2011

Trombetas Verdes do Apocalipse Now

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista tagged , , , , , , , às 00:15 por Roger Lopes

A venda antecipada de ingressos para o “Is The End of The Word Festival”, maior evento midiático desde o “Genesis Pallooza”, tem gerado desde o século passado uma corrida desenfreada entre os diversos grupos protagonistas de arte messiânica alarmista em busca de um lugar sob as luzes armagedônicas da ribalta. Enquanto organizações malthusianas de todas as facções se acotovelam entre fundamentalistas e visionários charlatões, a Indústria Ditatorial do Verde há tempos desponta conduzindo teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos.

Nada mais outsider e descolado no mundo contemporâneo do que bradar nos megafones a salvação planetária com seus grudentos clichês “Pequenas Ações Geram Grandes Resultados Style” ou então curtindo a página “Unilever Cada Gesto Conta”, no Facebobo, como se isso fizessse alguma diferença. Meus bagos ecológicos que fazem. Essa ladainha, por mais consciente que possa parecer, interessa apenas aos grandes grupos predatórios, aos Estados despóticos e às abomináveis Organizações Não-Governamentais subsidiadas pelo governo (um dia entenderei tal paradoxo). O restante dos ruminantes apenas segue a cantilena aonde a vaca vai, o boi vai atrás.

Podem gritar, podem gemer, podem espernear os adeptos da demagógica “verdade inconveniente”, mas é claro e cristalino como as águas do Niágara, que o discurso do ativismo verde nada mais é do que show business reacionário. Princípio básico da economia liberal clássica, “Lei da Demanda e da Procura” ou quanto maior a oferta, menor o preço. Quanto mais escasso o produto, e consequentemente, maior a procura, preços e lucros na estratosfera. Sem livre concorrência, pois “Mão Invisível” aqui só se for na bunda da dona Flora e da senhorita Fauna.

Caso não tenha ficado devidamente óbvio, esclareço: recursos naturais são hoje produtos de consumo mais caros que qualquer outro, inclusive tecnológicos. Quando idiotas desinformados ou simplesmente manipuladores de opinião passam a bradar com suas trombetas apocalípticas ao fim iminente das dádivas naturais, os cifrões das bolsas de investimentos triplicam na proporção do preço dos vegetais, dos minerais, dos animais, da energia elétrica, dos combustíveis, da água, do oxigênio, do gás-carbônico e até da fotossíntese. E quem paga essa conta é você, ativistinha da ditadura esmeralda.

“Sustentabilidade”, eufemismo magnificamente disseminado pelos Goebbels da moderna propaganda ideológica ambiental. Não é difícil perceber como os maiores conglomerados em todos os segmentos, seja no dia mais claro ou na noite mais densa, tornaram-se Lanternas Verdes preocupados com a Terra.

Bancos, petroquímicas, laboratórios farmacêuticos, montadoras de automóveis, hipermercados, fabricantes de salsicha, consultoras Jequiti, cervejarias, pet shops, empresas de pasta de dente, concessionárias de telefonia e até partidos políticos possuem sofisticados ecoslogans bacanudos. “Use seu Green Ecological Blaster Card Plus e durma com a consciência ecossocial trânquila!”. “Compre um Ecomóvel 4×4 Diesel e deixe-o na garagem fazendo sua parte!”. “Celulares Biodegradáveis, tecnologia a favor do planeta”. “Carne é morte, o peido bovino destrói a camada de ozônio. Coma salsichas de capim e tenha um intestino sustentável!”. “Elemental, meu caro Al Gore!”.

Impossível esmiuçar num único artigo todo o fascismo contido na retórica ambiental. Retórica, pra quem não sabe, é uma técnica filha da puta, atualmente muito utilizada por mulheres e chantagistinhas mirins, introduzida na época das odisséias homéricas por Sócrates (o filósofo grego, não o jogador de futebol) em seus ensinamentos, que consiste em, corrijam-me se eu estiver errado, questionar reiteradamente o adversário, emputecendo-o ao ponto de perder as estribeiras, confundir-se e cair em contradição mediante tantos porquês disso e daquilo. Não por acaso, essa mania besta fez com que obrigassem o tiozinho a beber um balde de cicuta e fosse torrar o saco de seus ancestrais no Olimpo.

Dessa forma, a extremada e vazia ameaça ecoaporrinhadora, segue a lógica cabalística demográfica proposta por Thomas Robert Malthus, no final do século XVIII, cujos preceitos vaticinavam que se a população mantivesse crescimento em proporção geométrica (2-4-8-16-32) enquanto a produção de alimentos permanecesse em ritmo aritmético (1-2-3-4-5), antes do século XX não haveria comida suficiente e o planeta se transformaria em uma sociedade Texas Unplugged Chainsaw Massacre com Leatherfaces por todos os lados.

O cenário na versão ecológica é mais ou menos a mesma coisa, porém sem árvores, ar respirável, água potável, baleias, golfinhos, pandas, onças-pintadas, o mico-leão-dourado e a ararinha-azul. Como já se sabe o pensador não contou com as descobertas científicas no campo da agricultura e da indústria alimentícia, dos avanços tecnológicos, das guerras, genocídios e extermínios sistemáticos de parte da população por regimes fascínoras.

É reconhecido na história que nenhuma ditadura se completa sem a criação de um inimigo à altura. Nenhuma manipulação das massas é possível se não houver em quem jogar a culpa pelas agruras sociais. O totalitarismo, seja por meio do elixir da bordoada bem dada, seja por meio do prazer conquistado com doces e guloseimas. Seja pela retórica revolucionária de esquerda ou pelo discurso reacionário de direita, apresenta em suas mais variadas formas um único objetivo, o controle sistemático e a manipulação do rebanho.

Não cabe de forma alguma contestar que o apelo do heroísmo protecionista do ecossistema não seja uma causa das mais nobres, pelo contrário. Entretanto, são justamente os paladinos quixotescos quem inadvertidamente sempre fornece aos tiranos  longe da extinção e déspotas da pior espécie os meios para perpetuarem o absolutismo compulsório sobre a nação. Intromissões desprovidas de fundamento técnico em obras de interesse público, gerando superfaturamentos além do tradicional orçamento superfaturado e tributações demagógicas disfarçadas de inspeções preocupadas com a qualidade do ar é apenas a pontinha visível do iceberg derretido pelo aquecimento global dos quentíssimos discursos vegetativos.

08/05/2011

A Ditadura dos Ativismos Eufemisticamente Corretos

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista tagged , , , , às 21:03 por Roger Lopes

Dizem que um belo dia Voltaire refletiu: “posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Apesar do aspecto cândido, tal pensamento está longe de adoçar o lábio da intolerância estampado nas novas faces sob os capuzes da inquisição contemporânea. Cônscio do poder das palavras e do estrago que causam quando usadas de forma irresponsável ou leviana, ainda assim é imprescindível defender a condição de que nada no mundo justifica o cerceamento da liberdade individual de expressão.

Vislumbra-se no horizonte o crescimento de um desvairado redemoinho de policiamento em nome desse modelo de ditadura do “politicamente correto”. Tal movimento blasfema diretamente contra o campo do debate de idéias e promove perplexidade diante da hipocrisia maniqueísta das atuais modinhas comportamentais. Idéias são perigosas, fato. Mas a ausência delas caracteriza o empobrecimento do espírito, cultura, crítica, arte, razão e, por conseguinte, do próprio povo como elemento de conhecimentos e valores humanísticos elevados.

Abandono aqui a subjetividade elegante para entrar de sola no assunto que me conspícua a alma, a recente ondinha de ativismosinhos ditatoriais cagando regras neste impávido colosso republicano, cinicamente representado como figura democrática liberal, apesar de exemplos evidentes como a mordaça imposta a humoristas e críticos durante as encenações circenses para o pleito de 2010, impedidos de tecer piadas ou jocosidades sobre os ilustres candidatos, demonstrar que estamos longe de viver no melhor dos mundos possíveis. Laissez Faire de cu é rola, afinal  incoerências desse porte são o mínimo que se espera desses excelentíssimos sacripantas. Gargalhar perante a cara de palhaço da sociedade pode, não é mesmo?

O exercício do cala-te ou te devoro é muito maior do que a vã filosofia voltaireana ousa sonhar. Este processo de novilingualização por meio de eufemismos para denotar etnia, opção sexual, credo, direcionamento ideológico ou social sugere apenas o uso pragmático das técnicas pavlovianas de condicionamento em suas cobaias caprinas para que não se afastem do rebanho. Das Cruzadas à Doutrina Bush, a História ilustra como a incômoda formação de grupinhos em defesa de causas supostamente nobres invariavelmente redundam em fogueiras para arderem como bruxos os detentores de opiniões contrárias às verdades incontestes dos que se proclamam perseguidos.

Perdidit antiquun litera prima sonum, “as primeiras letras perderam seus primitivos sons”. Deturpa-se o valor léxico das palavras para atribuir a elas uma conotação indecorosa, nem sempre existente, diga-se de passagem, nessa frenética busca por regalias legais em feudos institucionais. Nada contra a luta por direitos legítimos, mas bem sabemos o quanto é tênue a linha que cria proibições e criminalizações despóticas a fim de agradar demagogicamente a pequenas facções sem observar um contexto mais amplo. É por demais ilógico que o simples uso de verbetes seja julgado como algo de proporção tão hedionda, independentemente do contexto utilizado, porém é duplamente mais incoerente que um lado seja preterido, enquanto o outro desfrute das mais invariáveis concessões, alicerçado na suposição de uma frágil compensação histórica.

Quem hoje não defende a causa gay é rotulado como homofóbico. Contestar privilégios baseados na cor da pele se tornou racismo. Repudiar o pagamento de indenizações biliardárias a guerrilheiros comunas e artistinhas medíocres por total desserviço à nação garante o título de fascista. Comer carne vermelha é sinônimo de desumanidade. Não ter crença religiosa é ser automaticamente maligno. Condenar o uso de força repressiva pela legalização de quaisquer substâncias proibidas pela empáfia governamental é crime de apologia. Não aceitar o coitadismo das políticas assistencialistóides premia com o notório emblema de reacionário elitista. Preferir as comodidades do progresso e urbanização concede o estereótipo de Public Ecoplanet Enemy Number One. E até beijar a própria filha já sinaliza prática de pedofilia ou incesto.

Pelos Meus Santossacros Testículos, arautos dos exageros e guerrinhas insanas em nome das migalhas e privilégios disfarçados de justiças sociais, com o devido respeito pelo direito de pronunciamento de seus palavratórios de ordem, estejam de cu tomado. Fomentar a legitimação da guilhotina e do cadafalso como se fossem os novos profetas da razão absoluta, combatendo preconceito com preconceito ainda maior, nada mais é do que mero exercício de mediocridade totalitária. Defendamos até a morte o direito de dizeres o que bem entendem, mas não levantem estandartes para calar os que não concordem com suas chantagens emocionais.

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03/04/2011

Método Ludovico Para Um Admirável Brazil Novo

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista, Político Bom é Político Morto tagged , , , , , , às 22:32 por Roger Lopes

Alguns pessimistas leais perceberam o enorme hiato entre o último desabafo desesperançado deste implicante incrédulo e o momento presente. Obviamente que esta catatonia não deriva nem em sonho doce de padaria pela ausência de matéria-prima digna de irritar ao mais pollyanesco dos seres sapiens, mas pelo simples resfriamento do magma biliar após sucessivas erupções vulcânicas contra o escárnio desta Pompéia Federativa da Corrupção Nacional.

Dir-se-ia que a felicidade é cortejada pela ignorância, razão pela qual me permiti por algum tempo ser voluntário no processo behaviorista de lobotomização estilo “Ludovic Experiment”, impondo-me tamanha náusea e repugnância perante o exercício da cognição e aceitando o modelo do conformismo junto a imutável credulidade da opinião pública em relação às atrocidades governamentais, para inserir-me neste Admirável Brazil Novo, esplendidamente decantado pela conivência dos canais midiáticos.

Cabe, portanto, acreditar que vivemos sob os raios fúlgidos do tal sol da liberdade ou admitir que a única salvação possível para esta versão republicana de Sodoma e Gomorra se dará exclusivamente por meio da chegada de um meteoro anunciado pelas trombetas dos quatro cavaleiros do apocalipse, consumindo em chamas e enxofre até as baratas vestidas com a camisa da seleção canarinho, para que nada mais procrie nesta terra abençoada pela safadeza.

Afirma a máxima que o silêncio fala mais alto que gritar. Ledo engano, afinal é exatamente a mordaça despótica aplicada às poucas vozes insurgentes e a demagogia da pseudo-democracia que esconde os grilhões de chumbo, nos fazendo deitar sob o julgo feudal de uma oligarquia política descendente de genitoras de cunho sexual mercantil moralmente discutível, sem permitir ao país acordar do coma em que se encontra.

Mas deixando as justificativas de lado, vamos aos fatos. Incentivado por alguns leitores inexplicavelmente simpáticos às minhas rabugentices cronísticas, joguei fora a planta da felicidade, postei-me frente ao meu companheiro cibernético de cela, liguei o aparelhinho condicionador de cordeiros e bovinos e processei rápida atualização sobre as últimas putarias Made in Brazil. E o que parecia mais árduo que os doze trabalhos de Héracles, mostrou-se mais fácil que os gregos enfiarem um cavalo de madeira rabo adentro daquela antiga polis troiana subjugada pela própria ambição. De início, nada de novo no front; taxa de juros na estratosfera, elevação dos benefícios da parasitária corja política, celeuma teatral para conceder mísero aumento ao mínimo salário mínimo, permissão da inútil Agência Nacional de Energia Elétrica (ANAEL) para as concessionárias sanguessugas reajustarem tarifas a bel prazer, mais e mais sangria de impostos para a farra do dinheiro público e assim por diante.

Entretanto, a primeira pérola jogada à suinidade latente veio em estapafúrdia propaganda partidária, cuja desgranhenta sigla fisiológica me recuso a pronunciar, pois esses desclassificados não merecem de minha parte sequer publicidade negativa, onde um proxeneta sorridente sugere a aviltante balela de que existem bons e maus políticos e que por conta deles o país caminha em direção a uma onda de mudanças e justiça social. Que morram em eterna agonia esses salafrários. O ápice da hipocrisia encontra seu amparo na genialidade do slogan: “Se os seus amigos dizem que nada vai mudar, não mude de idéia, mude seus amigos!”. É preciso dizer mais?

Enquanto as efervescências gástricas me corroíam em poucos segundos de exposição televisiva, o intervalo comercial seguinte anunciava que para azia, queimação e indisposição estomacal, Epocler é alívio imediato e persistindo os sintomas, um médico deverá ser consultado. Indago se essa estratégia não faz parte daquela tal venda casada à qual se referem os órgãos de defesa do consumidor.

Apenas isso já estava de bom tamanho para este editorial, mas a abstinência de ódio queria mais. Mantive a caixinha de circuitos eletrônicos integrados torpedeando informações provenientes da sucursal do inferno na Terra e em pouquíssimo tempo, novo golpe. Dessa vez um achólogo nobremente preocupado com as condições climáticas aferia que “o carro é um belo símbolo do individualismo!”. Não pude conter um “vai tomar no cu” e decidi que isto fica como assunto a ser abordado detalhadamente em outra oportunidade, afinal o governo adora o discursinho ambiental demagógico e vazio, tanto que criou um imposto para inspecionar veículos malvados que agridem o indefeso meio-ambiente. Altruístas eles, não?

Mas as estomatites ainda não encontravam-se em ponto de ebulição até o anúncio da tão aguardada “Reforma Política”, que retira ainda mais o pouco controle da sociedade sobre a hedionda escória politiqueira, para dar a estas um absolutismo monárquico somente comparável ao dos grandes tiranos da história.

Evidentemente estas linhas não farão qualquer diferença na condução ou intervenção dos acontecimentos, mas servem como registro histórico do surgimento embrionário de um sistema totalitário na terra do carnaval por meio da subtração e cerceamento de direitos coletivos e individuais. Que não se reclame depois quando o Grande Irmão estiver olhando por você.

07/02/2011

Alea Jacta Est

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista tagged , , , , , , às 23:33 por Roger Lopes

“Os dados estão lançados”. Temida pelos adversários, a célebre frase promovida por Júlio Cesar em suas audaciosas campanhas dedicadas a Marte prenunciava as inevitáveis conquistas romanas (exceto contra aquela irredutível aldeia de loucos gauleses dos quadrinhos) banhadas em glóbulos vermelhos, enquanto os deuses do alto de sua morada olimpiana jogavam com a sorte da humanidade.  Seja o que Zeus quiser, todavia não custava nada ao invejável estrategista dar uma certificadinha de possuir o maior, mais bem equipado e devastador exército da época, afinal a Cesar o que é dele e a Zeus o que é de Zeus. No entanto, mostra a página dois da história que nem mesmo os desígnios de Júpiter e Cia impediram que Roma sucumbisse à própria decadência moral e corrupção desenfreada.

Séculos se passaram, mas velhos hábitos permanecem independentemente da idade avançada de Chronos, sendo os dados hoje  manipulados por deuses amorfos desprovidos da imponência mítica dos antigos, porém muito mais ávidos, vaidosos, cruéis, vingativos e habilidosos na condução dos rebanhos, apresentados sob as pomposas alcunhas de Mercado Financeiro, Política Monetária, Controle Inflacionário, Austeridade Fiscal, Superávit Primário,  Elevação Tributária, Reformas dos Sete Mil Infernos, Burocracismo Totalitário, Engodos Legislativos, Assistencialismo Barato, Maniqueísmo Sustentável e Descaso Social.

A estas divindades contemporâneas brindam nossos atuais imperadores, bebendo o sangue dos cordeiros humanos em seus macabros rituais de sacrifício, eufemisticamente chamados de tragédia pela Vênus Midiática em seu altar de adoração televisivo, pois enquanto o titã Caos assola a nação com seus quatro cavaleiros ambientais do apocalipse, oráculos governamentais brincam de adivinhação atribuindo culpa à fúria dos deuses da natureza e à falta de crença dos críticos pagãos.

Por Mercúrio, Divindade Protetora dos Ladrões! Enquanto investimentos em infra-estrutura, políticas de prevenção e combate à corrupção são coisas do tempo dos cesares, a nova ordem mundial agora são as orgias e bacanais com dinheiro público em nosso dionisíaco Congresso Nacional, que rouba dos sacrílegos contribuintes até o óbulo dos olhos da cara destinado a Caronte na travessia do Estige rumo ao reino de Hades.

Ave Cesar, Morituri te Salutanti

Alea Jacta Est!

09/11/2010

Entre o Dente e a Mandíbula

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista, Político Bom é Político Morto tagged às 10:59 por Roger Lopes

Pior do que o espírito pessimista é a resignação mediante a percepção de que mudanças positivas na cultura simplória do país é mera utopia. Até onde foi possível, me omiti das campanhas politiqueiras e do patético processo eletivo incentivado por propagandas oficiais maniqueístas, visando convencer o populacho da importância do voto útil para esta ilusória democracia.

Democracia amparada apenas pelo voto direto, desassociada da equidade social e monetária, liberdade de expressão e desenvolvimento intelectual e sustentada pela manipulação corporativa, escravização midiática, opulência de poucos e miserabilidade de muitos, nada mais é que arremedo eleitoreiro.

Por singela questão de princípios, não dou meu voto a filho da puta nenhum, pois caso nunca tenha dito, político bom é político morto e exercer cidadania é exterminar um amaldiçoado desses por dia. Esta aberta a campanha, quem se habilita?

A polarização entre partidos fisiológicos sem qualquer ideologia que não seja abocanhar os cada vez mais vultosos recursos da economia brasileira, com objetivos bem diversos aos alegados investimentos no futuro da nação, não deixa muitas escolhas aos eleitores.

As supostas opções remetem à questão, é preferível ser devorado por um gigantesco crocodilo do Nilo ou dilacerado por um enorme tubarão-branco na costa australiana? Sei lá, a única certeza é que diante de tais leviatãs a paralisia é inevitável e mesmo sobrevivendo aos ataques, as sequelas serão terríveis. Estas são as hipóteses que as eleições neste Brasil varonil nos dão, ser abocanhado pelos grandes dentes peessedebistas ou pelas largas mandíbulas petistas. De um jeito ou de outro, estamos irremediavelmente fudidos.

28/09/2010

Desrespeitável Público

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista, Político Bom é Político Morto tagged , às 15:24 por Roger Lopes

Desrespeitável público, o circo está de volta à Terra da Bandalheira. Tem bandeirinha, corneta, pipoca e picadeiro. Tem alegria, muita diversão e, claro, palhaços a dar com o pau. Dos dois lados do palco. E cidadão que sou, mais uma vez fui convocado para ser voluntário no maior espetáculo da terra, o processo eletivo brasileiro, pilar da democracia. Pois sim, joguem areia em meus olhos.

E como não poderia deixar de ser, a trupe de picaretas querendo se fartar a custa de cargos públicos cada vez aumenta mais. Apresentadores de rádio e televisão, jogadores e dirigentes de futebol, boxeadores decadentes, promotores que usam casos sensacionalistas para se promover e até atores e atrizes pornôs ganham o horário eleitoral “gratuito”. Não sei se é pra rir ou chorar.

Já que não pretendo contribuir para essa picardia votando em filho da puta nenhum, procurei ficar incólume dessa ridícula corrida eleitoreira. Entretanto, por mais que quisesse, não consegui fugir do assunto do momento, a campanha irreverente do palhaço Tiririca a Deputado Federal e a caça às bruxas que se forma no horizonte.

Longe de querer ser advogado da malandragem disfarçada de sorriso, mas é evidente que por um breve instante a piada sem graça tirou a sociedade de sua contumaz letargia. As questões levantadas com pilhérias do tipo “Você sabe o que faz um deputado? Nem eu”, de forma inesperada isqueirou a fagulha do questionamento no povinho abestado e arranhou a imagem engravatada de todos os pilantras que enveredam pelo caminho do fomento à miséria denominado política.

Prova disso é o ofício expedido pela Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo à Justiça Eleitoral, visando tirar o menestrel Tiririca de cena, em razão de uma possível ocultação proposital de bens pessoais à Justiça, enquanto outras correntes propõem banir o comediante enquadrando sua campanha por infração ao artigo 5º da resolução 23.191 do TSE, que diz: “A propaganda, qualquer que seja a sua forma ou modalidade, mencionará sempre a legenda partidária e só poderá ser feita em língua nacional, não devendo empregar meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais (Código Eleitoral, art. 242, caput)”.

Entretanto, impugnar a candidatura do palhaço com base nessas considerações seria um verdadeiro tiro no pé da panfletagem eleitoreira oficial e do pseudo processo democrático, suprimindo o direito à liberdade de expressão, pois todo brasileiro sabe que seus representantes políticos são arlequins corruptos trajando ternos Armani. Tiririca apenas se veste adequadamente para o circo que é a política nacional, mas o modelo propagandístico orwelliano não permite macular a imagem do Grande Irmão Eleitoral. Como diria o velho ditado, só dói quando ele ri.

Partindo do princípio De Gaulle de que a Joan Mother’s Home não é definitivamente um país sério, é óbvio que a mediocridade cultural do povinho fútil, retardado, fraco, promíscuo e corrupto, não apenas elegerá o bufão como seu representante, mas propiciará a ele uma das mais representativas soma de votos de todos os tempos. Quem duvida põe o dedo aqui, bem no fogo da hipocrisia brasuca.

Dedadas no rabo a parte, o governo gastou uma fábula para convencer o populacho da seriedade deste processo de escolha sem credibilidade alguma e de repente se viu surpreendido com um tabefe na fuça, dado pelas verdades ditas pelo candidato polichinelo, pois este não é pior do que nenhum dos safados que se perpetuam ad infinitum no poder à base do tradicional pão e circo. Afinal, como ele próprio afirma, “pior do que tá, não fica”.

07/05/2010

Drogas, Mentiras e Videotapes

Posted in Assim Caminha a Bovinidade, Detestável Mundo Novo, Neopessimista tagged , , , , , , , às 15:08 por Roger Lopes

Dizem que “burrice é uma dádiva”. Exceto pela parte léxica tocante ao pobre animal, cujo intelecto se sobressai ao da maioria dos telespectadores supostamente racionais, demonstrando, inclusive, maior dignidade ao empacar quando algo não lhe parece correto, devo concordar com a conotação jocosa da afirmação. Faz-me tremer o invólucro da alma observar uma cambada de imbecis reproduzindo pensamentos simplórios e idéias prontas como verdadeiros papagaios de pirata, afinal currupaco de cu é rola.

Refiro-me ao processo de desinformação contido na imbecilidade de reportagens tendenciosas disfarçadas de jornalismo sério, aludindo toda merda ocorrida não apenas no país, mas no mundo, ao uso de entorpecentes, bebidas alcoólicas, tabaco, chás, ervas e sei lá mais o quê, sem qualquer averiguação, mesmo que superficial, dos fatos. Que a discussão acerca dos males e tratamentos decorrentes do uso de tais toxinas seja defendida é até condizente, porém, premeditar estratagemas sensacionalistas e suposições preconceituosas para justificar o belicismo e desperdício de recursos públicos no inútil combate ao uso destas substâncias é pura engabelação.

Vem sendo praxe leviana associar violência, assalto, homicídio, suicídio, infanticídio, parricídio, fratricídio, genocídio, latrocínio, laticínio, acidente no trânsito, inchaço do pé, unha encravada, dor de barriga, crise existencial, encosto, impotência,  flatulência e perturbação da alma a um suposto esquema envolvendo beberagens e psicotrópicos, tudo de forma extremamente subjetiva e conjectural.

Exemplos como o dos cachorrinhos adestrados da imprensa, que para satisfazer aos anseios conservadores oficiais se apressaram em afirmar que o assassino do cartunista Glauco (Geraldão Eterno) era um assaltante visivelmente drogado,  sem sequer desculpar-se pelo grave erro de informação, após constatar que o babaca era nada menos que um amiguinho da família ressentido de não ter levado umas dedadas no rabo quando criança, ocorrem com incrível reincidência em nossos voluntariosos órgãos de comunicação.

Sem defender a tese de que usuário é coitadinho e traficante é vítima oprimida do sistema, como querem fazer crer os tais defensores dos direitos humanos e os assustadores grupos pró-vida. Porém, como sempre, deixamos de questionar o que se esconde por trás de cada proibição estúpida, justificada pela retórica maniqueísta de jornais, revistas, televisão e propaganda ideológica governamental.

Princípio básico da economia liberal, toda oferta deriva de demanda (procura) e numa sociedade sufocada por tão onerosa carga tributária, devia causar espanto a enorme quantidade de atividades colocadas à margem da legalidade. Tal ignomínia só se justifica se admitirmos que para os legisladores a indústria da ilegalidade é muito mais lucrativa que a formalidade, tendo em vista que o excesso de burocracia é uma ferramenta eficaz para a comercialização de “facilidades”.

Basta tirar só um pouquinho da venda que encobre os olhos para enxergar que morrem mais, mas muito mais, pessoas no pseudo-combate ao tráfico ou com remédios comercializados normalmente em farmácias e DROGArias do que necessariamente em decorrência do consumo propriamente dito das tão demonizadas drogas. Pergunte a qualquer médico ou especialista isento, se existe qualquer caso de overdose de maconha diagnosticado até hoje no mundo. Tenha a santa paciência.

Em nações culturalmente mais desenvolvidas, o que aqui é proibido lá é usado com fins medicinais ou mesmo turísticos, sem que ocorra o caos e a violência apregoados pela propaganda repressora oficial. Até em Portugal, que não é nenhum exemplo de vanguarda, o pensamento conservador retrógrado foi deixado de lado e após a descriminalização do uso, constatou-se significativa queda no consumo após a liberalização.

A questão no Brasil vai muito além do simples problema de saúde e segurança pública, passando até mesmo por interesses geopolíticos imperialistas. O grande entrave, no entanto, é que MUITA gente graúda lucra com a ilegalidade (e não apenas das drogas). Os traficantes apresentados como os grandes vilões da história são apenas a ponta do iceberg, pois os mandatários do bilionário esquema não dão a face a tapa, nem aparecem em noticiários idiotas, pois conspiram nos bastidores e em gabinetes governamentais.

A legalização não convém a esses ilustres senhores, pois assim precisariam recolher impostos e investir em tratamentos, diminuindo consideravelmente sua margem de lucro. Ademais, os supostos viciados são um bode expiatório excelente para justificar a ausência de políticas públicas em diversos setores de responsabilidade do Estado.

Entretanto, antes que me acusem de apologia, esclareço que não advogo em causa própria, pois minha rara incursão nesse campo, durante a adolescência para impressionar garotinhas libidinosas, resultou apenas em aumento de apetite digno de Biotônico Fontoura seguida de agradável soneca e, acredito eu, grande alívio às referidas donzelas que não precisaram trocar fluídos corporais com esta criatura desprovida de beleza facial. Todavia, até que se implante a inevitável lei seca com toque de recolher nos moldes da Chicago de 30, porque de gangsters o planalto está cheio, permito-me apreciar a tradicional cervejinha pós-expediente e que estejam de cu tomado os hipócritas viciados em bandalheira, que se escondem sob a falsa égide da moral e bons costumes.

Enquanto outras filhadaputices mais prementes ocupavam minha dependência gástrica em bicarbonato de sódio, mantive esse tema fermentando, afinal é mais do que evidente que não existe órgão do governo, partido político ou qualquer outra representação de merda que esteja de fato interessada no bem-estar da população mais do que em avaliar como o erário tratará as necessidades do próprio bolso. Que me prove o contrário quem ainda acredita em Papai Noel, Saci Pererê, Curupira, Caipora, Fada-dos-dentes, leprechauns, duendes, gnomos, políticos ilibados e laboratórios farmacêuticos missionários.